Source Code - Código Base (2011)
Durante o passado ano e até à mais recente época de Óscares, fui fortemente criticado por não ter venerado “A Origem” do grande Christopher Nolan. Pois bem, “Código Base”, sendo um filme muito inferior, consegue corresponder (para alguns) à obra-prima de Nolan nos motivos que me fizeram não gostar do filme. Para aqueles que dizem ter visto o filme do mês, deixo já bem clara a minha posição. Para este filme, apenas uma palavra: escusado, totalmente escusado.
Neste filme, Duncan Jones mostra-nos um avançado programa concebido pelo governo norte-americano para descobrir pormenores sobre um atentado ocorrido num comboio que se dirigia para Chicago. Esse programa consiste em colocar a mente de um soldado no corpo de uma das pessoas que viajava nesse comboio e vivenciar os últimos 8 minutos antes da explosão, de modo a descobrir pormenores sobre a bomba e quem a activou.
Parece-vos interessante? Só por si a ideia já é pouco interessante e torna-se ainda mais desprezível quando a sua concretização é terrível. Começando pela principal substância do filme, enquanto espectadores acompanha-mos constantemente a odisseia da personagem de Jake Ghylenhaal (Capitão Stevens), que regressa ao comboio inúmeras vezes, exactamente do mesmo ponto de partida, para tentar descobrir a tal bomba. Por aqui o filme torna-se monótono, pois sabemos perfeitamente que ele só vai realmente descobrir a bomba e o terrorista bem perto do final da história. Ainda assim, a uma certa altura a nossa curiosidade consegue ser despertada pois vamo-nos familiarizando cada vez mais com todas as pessoas presentes no comboio e até começamos mentalmente a apostar quem é o responsável pelo atentado, à medida que nos habituamos ao ritmo rotineiro da história. No entanto, o argumentista não entendeu que ao fazer isto tinha de dar à história um vilão imprevisível e inesperado, o que não aconteceu. O desmascarar do vilão desta história foi a coisa mais sem graça e mole que testemunhei nos últimos tempos sentado numa sala de cinema.
Ao nível da representação, Jake Ghylenhaal tem uma prestação desastrosa. Enfim, nestes típicos filmes em que alguém acorda num cenário desconhecido e assustador, já estamos habituados a um “período da adaptação” que a personagem tem de ter, mas isso é um passo que tem de ser dado rapidamente. Nesta história, o Capitão Stevens está constantemente estupefacto com aquilo que está a vivenciar, de uma forma exagerada e desproporcionada. Chega a parecer estar sob o efeito de qualquer coisa enquanto está a representar. Vera Farmiga é igualmente desastrosa, não traz nada de novo ao filme e depois de ser referenciada pela Academia não se pode limitar a ter uma prestação destas, monótona e desinteressante. Michelle Monaghan consegue salvar a prestação do elenco, gosto imenso desta actriz e mais uma vez não desiludiu.
A banda sonora não tem espaço nem relevância. Serve apenas como adorno a esta película e quando assim é, estamos na presença de mais uma falha. Os poucos efeitos especiais são primários e repetidos, não é por aqui que o filme vence ou convence.
Quanto à realização, além de falhar em todos os aspectos que já apontei e vou ainda apontar, peca imensas vezes ao focar certos pormenores de algumas personagens que leva o espectador a pensar que vão ser relevantes no avançar da história e depois acabam por não passar de planos ou referências aleatórias. Quando há demasiada aleatoriedade na atitude do realizador, isso só nos reforça a ideia de que estamos na presença de um filme que foi feito a pedido, a obrigação, à procura de lucro e nada mais do que isso.
Fazendo uma nova ronda pelas diversas falhas do filme, nem os sempre supostamente despercebidos créditos iniciais escapam às minhas críticas. Para mim os créditos iniciais devem servir de arma de atracção, devem colocar “água na boca” dos espectadores enquanto são vistos, através das imagens e da música. Bom, não creio que isto se consigo quando ouvimos uma música extremamente monótona e uma sequência de imagens que evocam vistas aéreas da cidade de Chicago e que mais pareciam ter sido tiradas do Google Maps.
Depois (e é aqui que na minha opinião o filme falha na mesma coisa em que falhou “A Origem”), Duncan Jones faz algo que tenho visto muito ultimamente e que não é nada bom, liga o “complicómetro”. Perante uma história tão desinteressante, o final teria de ser simples e evitar grandes extravagâncias pois correria o risco de passar do desinteressante para o ridículo. Depois de se descobrir quem era o vilão e onde estava a bomba, embarcamos numa série de estupidezes que apenas serviram para fazer render o peixe. O Capitão Stevens, que aprece o filme todo numa espécie de cápsula enquanto é teletransportado para o passado, afinal já está em morte cerebral sendo que é a sua mente que está a ser transportada para o passado. Ok, uma reviravolta, escusado mas tolerável, vamos embora? Não vamos embora não, não antes de voltarmos ao comboio mais uma vez e descobrirmos que afinal a bomba não explodiu, o Capitão Stevens está vivinho da silva e todos os cenários virtualmente criados afinal nunca existiram. E agora eu pergunto: conclusões? O argumentista desta história sabe ao menos onde é que isto tudo parou e terminou? Impossível, não pode saber. Atenção, volto a referir que é apenas neste ponto que comparo este filme ao “A Origem” e que o filme de Nolan consegue estar a milhas de distância deste último.
Resumindo, um filme escusado, dos primeiros grandes fails de 2011. Ainda não acredito que vi Jake Gylenhaal fazer isto.
EXAME
Realização: 3/10
Actores: 5/10
Argumento/Enredo: 2/10
Efeitos Especiais: 3/10
Banda Sonora: 3/10
Duração/Conteúdo: 2/10
Transmissão da principal ideia do filme para o espectador: 5/10
Média Global: 3.3/10
Crítica feita por Pedro Gonçalves
Informação
Título em português: O Código Base
Título original: Source Code
Ano: 2011
Realização: Duncan Jones
Actores: Jake Gylenhaal, Michelle Monaghan, Vera Farmiga
Trailer do filme:
8 comentários
Uuuu, assustei-me! Quando vi 3.3/10 assustei-me mesmo, por um momento pensei que tivesse sido a Jota a escrever a crítica. Sei que ela não só gosta de sci fi mas como também gosta bastante de Física Quântica, portanto o mais provável é ela defender o filme.
ResponderEliminarContudo concordo contigo,Pedro Gonçalves, no sentido em que a premissa "complexa" está extremamente mal concretizada. Sim, o Source Coude é mecânica quântica e aquelas coisas dos universos paralelos, mas e depois? Não está bom. Só não concordo quando dizes que a ideia não é interessante, porque é.
Duncan Jones falhou, e se falhou. Se à primeira atingiu o Jackpot, com o Moon, desta vez caiu no precipício.
Adorei ler a tua crítica, parabéns pelo teu excelente regresso. Devias postar mais frequentemente.
Cumps
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarÉ excelente ter-te de volta ao blog Pedro! E claro que tinhas que começar a gerar controvérsias, seu malandro ahah. Realmente quando não gostas, não gostas mesmo, e não deixas escapar nada, como a tua crítica bem explicita. Apesar de extremamente negativa, não deixa de ser uma crítica válida e bem elaborada. Sinceramente interessa-me sempre conhecer diversas perspectivas dos filmes, e devo dizer que este tem opiniões bem divergentes. És tu a odiar, e a Joana a adorar. E vou concordar ali com o nosso amigo João, devias postar mais frequentemente!
ResponderEliminarSe fosse eu a escrever esta crítica, a pontuação seria completamente diferente. Gostei imenso deste filme, e não é só por gostar de ficção científica (que nem impera muito, é mais um thriller munido de características de sci fi) e ver uma mecânica quântica aplicada (mesmo que muito irreal). Source Code utiliza uma premissa com bases reais mais é extremamente impossível fazer.
ResponderEliminarDiscordo quando dizes que Jake não está bom neste filme :O! Ele está muito convincente e credível, e Vera Farmiga faz um bom trabalho ao apoiá-lo.
Verdade, Duncan Jones não conseguiu igualar a perfeição de Moon, mas mesmo assim acho que fez um bom trabalho com Source Code. Com Moon, achei que Duncan Jones quis transpôr para o ecrã algo mais filosófico e que transpira intelectualidade.
Discordo com o comentário do João Figueiredo quando diz que Duncan Jones falhou. Não falhou, apenas não criou um Moon. Source Code é capaz de agradar mais pois é mais comercial, apesar de preferir mil vezes o Moon, claro.
7.5/10
@João Figueiredo: Muito obrigado pelo teu comentário! E sim, tinhas razão, a Jota gostou do filme! Agora que penso, sim, talvez a ideia concretizada de forma diferente até resultasse e talvez a ideia incialmente até fosse muito mais interessante!
ResponderEliminarVou postando conforme a minha disponibilidade que não é muita, mas desde já agradeço a tua manifestação e apreço em relação às minhas críticas!
@Flávio Gonçalves: Houve apenas 2 motivos que me levaram a não apagar o seu comentário: primeiro porque aqui não censuramos ninguém e depois para todas as pessoas verem que você faz exactamente aquilo que critica, ou seja, deita abaixo o meu trabalho insultando-o mas sem qualquer tipo de argumentação ou justificação. Posto isto e apesar de já lhe ter respondido particularmente num outro espaço, aqui estamos na minha "jurisdição" e portanto gostava de lhe dizer várias coisas: em primeiro lugar, agradecia que daqui para a frente quando se dirigir a este blogue o faça com educação e boas maneiras, porque ninguém aqui tem de levar com a sua falta de educação, falta de aceitação crítica, falta de poder de contra-argumentação e até falta de domínio da Língua Portuguesa. Em segundo lugar, deixe-me esclarecer-lhe que neste blogue ninguém acha possuir o "Santo Graal" da sétima arte e portanto fazemos o que fazemos por gosto, por paixão, não sendo um trabalho feito a nível profissional. Agora, que você se ache um grande profissional (que tanto quanto sei, não o é) ou que ache que possui o tal Santo Graal (que tenho a certeza que não o tem) isso é um conflito que tem de resolver consigo mesmo. Em terceiro lugar, deixe-me também dizer-lhe que neste blogue já trabalhamos com muita dedicação à tempo suficiente para nos darmos ao luxo de não permitir que qualquer "menino" venha aqui denegrir o nosso trabalho, pois tenho a certeza que nunca ninguém deste blogue foi ao seu espaço insultar o que você lá faz. Em último lugar, se está a estudar cinema aconselho-o vivamente a pedir aos seus professores para lhe ensinarem a lidar com uma posição contrária à sua, porque senão não conseguirá ser ninguém no ramo onde está a tentar entrar. Gostava que tomasse este gratuito conselho de um estudante e trabalhador da comunicação social.
@Sarah: É sempre um prazer trabalhar para este blogue e é louvável o trabalho que vocês aqui têm feito. Estou contente por estar de volta depois de mais uma pausa e vou tentar postar mais frequentemente. Em relação às controvérsias, não gosto que isso me caracterize e não gosto de fazer uma má crítica, mas reconheço que sou muito radical quando não gosto de um filme e claro que radicalidade chama sempre um pouco de polémica.
@Jota: Compreendo perfeitamente o que defendes. Reconheço ainda que o que me levou a assumir esta atitude perante o filme talvez se deva também a uma linha muito ténue que eu possuo entre o surrealismo tolerável e surrealismo rídiculo. Para mim, "Source Code" caiu claramente para o surrealismo rídiculo e não pude deixar de o fazer notar. Em relação ao Jake, não posso concordar contigo, não quando me lembro de grandes interpretações como "Brokeback Mountain" ou "Zodiac".
Apenas para finalizar, queria ainda mencionar que em nenhuma altura desta crítica associei este fracasso de duncan jones ao seu anterior "Moon". Mas é claro, uma perspectiva válida Jota! Foi azar, há-de de chegar o filme que eu venerei e a crítica caiu nas tuas mãos!
Pedro nem preciso de dizer nada porque sabes exactamente o que penso! És o maior *
ResponderEliminarVi ontem o filme e gostei deste e discordo com esta crítica.
ResponderEliminarNão concordo totalmente quando dizes "Só por si a ideia já é pouco interessante". A parte típica de um terrorista ter plantado uma bomba, o comboio explodir e o "ai jesus!" de ele ter outra que ainda vai matar mais pessoas, realmente é pouco interessante. No entanto, a parte em que ele está na pele doutra pessoa durante esses 8 minutos, a grande confusão inicial que este tem, que perdura ainda durante algumas sessões de 8 minutos, a aflição deste perceber pouco ou nada do que se passa e de o tentar perceber (se nos metêssemos no lugar de Stevens acho que ficávamos um bocadito "WTF?!") e os universos paralelos… Acho que não é uma obra-prima, mas também acho que é um filme muito bom e não "escusado".
Não acho que o filme não seja filosófico, as questões éticas relativas à experimentação em humanos (pois afinal aquilo era uma experiência com um acontecimento real, para ver o sucesso do programa) apresentadas no final do filme, o direito de morrer e o direito de ser autónomo e o da livre escolha. Ainda temos os universos paralelos e a Física que tem muito por explicar, bem como o resto do Universo (não meus amigos nós não sabemos quase nada sobre onde estamos), que só por si fazem-nos filosofar bastante (em mim teve esse efeito). Achei este último ponto, o ponto principal do filme; os mistérios por resolver da Física.
"Por aqui o filme torna-se monótono, pois sabemos perfeitamente que ele só vai realmente descobrir a bomba e o terrorista bem perto do final da história."
Pois, mas esta não é claramente a parte principal do filme, mas apenas um meio de atingir um fim. Tal como Moon a monótona exploração mineira lunar foi um meio para atingir um fim.
"o argumentista não entendeu que ao fazer isto tinha de dar à história um vilão imprevisível e inesperado, o que não aconteceu. O desmascarar do vilão desta história foi a coisa mais sem graça e mole que testemunhei nos últimos tempos sentado numa sala de cinema."
Como disse logo acima, esta parte da história apenas foi um meio. Quando vi o filme não me importei muito com quem seria o vilão, mas sim como é que o programa funcionava em si. Aliás, ainda faltava muito tempo para se descobrir quem era o vilão e já suspeitava do rapaz que recebia a carteira (porque supostamente se tinha esquecido) quando o comboio parava na estação. Se isto fosse um típico policial com força especiais, agentes secretos e tudo à típica caça do "bandido", concordaria contigo, mas nunca foi esse o tema principal e o objectivo deste filme, a meu ver. O terrorista era apenas mais uma parte desse meio para atingir um fim. O ”Source Code” (os mistérios da Fìsica) era o fim do filme.
"Nesta história, o Capitão Stevens está constantemente estupefacto com aquilo que está a vivenciar, de uma forma exagerada e desproporcionada."
ResponderEliminarNão concordo, tenta meter-te no papel da personagem:
- Não sabe onde está, porque está ali e porque é que de 8 em 8 minutos "encarna" um tal de Fentress num comboio que vai para Chicago;
- Não sabe como está o seu pai (família);
- Goodwin e Dr. Rutledge dão-lhe poucas informações e só mais à frente é que o capitão recebe algumas e fica a saber que está “morto”.
- A pressão sempre imposta, pelas duas personagens referenciadas logo acima, para encontrar informações sobre o terrorista.
A personagem está sempre desamparada enquanto não sabe essas informações e mesmo depois de saber parte dessa informação, ainda continua desamparada porque não tem uma saída aparente, ou seja, não vai viver como antigamente, logo, não acho que seja desproporcionada e exagerada a forma como o actor representou isso. É suposto ser confuso e algo desesperante para a personagem, e daí até a hesitação de Goodwin e Rutledge em contarem qualquer verdade.
"Não vamos embora não, não antes de voltarmos ao comboio mais uma vez e descobrirmos que afinal a bomba não explodiu, o Capitão Stevens está vivinho da silva e todos os cenários virtualmente criados afinal nunca existiram"
Acho que estás a fazer confusão. Na última sessão de 8 minutos o capitão desarma a bomba retirando os 2 telemóveis. No final desta o capitão continua no corpo de Fentress num universo paralelo, pois o programa “Source Code” no final de contas não se limitava a “rever o passado”, como pensava o Dr Rutledge e a sua equipa, mas levava o capitão ao passado e fazia com que este fosse reescrito e, assim, criava-se um universo paralelo em cada sessão (teoria do gato de Schrödinger) e daí ele ter ficado vivo depois desta última sessão de 8 minutos.
Os mundos virtuais nunca existiram, pois nunca foram virtuais, foram sempre reais (Stevens disse muitas vezes que as sessões pareciam-lhe demasiado reais e acreditava que aquilo não era só uma simples ida ao passado). Eram sempre universos paralelos a serem criados pelo “Source Code” a partir do momento em que Stevens agia na pele de Fentress (mente era a de Stevens, mas o corpo era o de Sean Fentress).
Não achei nenhuma parte do filme “descabida” ou “exagerada” ou o filme “escusado”. Achei-o imaginativo e original e foi para mim revitalizante ver Sci-Fi a “bater” mais na Física (Ciência) e nos reais mistérios por resolver desta e na irrealidade/irracionalidade que o Universo até agora nos parece ser.