Inglourious Basterds (2009)
By Sarah - domingo, janeiro 02, 2011
"A basterd's work is never done"
São neste momento 06:27 da manhã.
Parece-me uma boa hora para voltar a escrever para vocês, leitores atentos deste blogue que não esmorece devido à grande contribuição da Joana e da Sara. Desde já peço desculpa pela minha prolongada ausência, a qual não irei justificar, pretendo brindar-vos apenas com o meu regresso às críticas.
Bom, apesar de não me ter portado bem ultimamente no que toca a críticas de cinema, parece-me a mim que o cinema não se andou a portar melhor no ano que agora fechou e foi por isso preciso que eu voltasse ao arquivo dos grandes filmes de 2009 para arranjar algo que servisse de mote a uma boa crítica. E porque o filme em questão retrata uma vingança que caso tivesse acontecido teria ficado para a história, eu vou vingar a honra e a essência deste filme que ficou para a história e que foi injustiçado na última entrega dos Óscars. Sei que sou suspeito para falar, mas aqui vou eu, pela primeira vez, fazer a crítica de um filme do meu realizador favorito: “Sacanas Sem Lei” de Quentin Tarantino.
Se vos disser que começo esta crítica enquanto ouço uma das peças que Enio Morricone compôs para o filme, logo vocês têm a certeza absoluta de que se trata de riqueza musical, porque se há coisa em que Tarantino não falha é na banda sonora e isto já não é novidade nenhuma. Novidade será a motivação que Tarantino encontrou neste filme. Este grande realizador deixou os seus “contos” cheios de grandes personagens vindas da sua imaginação e pegou numa história batida, cansada e épica e recriou-a ao seu estilo. A última frase do filme é dita pelo seu protagonista, Tenente Aldo Raine (Brad Pitt) e eu estou convicto que Tarantino quis aqui passar uma mensagem a todos os espectadores do seu inigualável cinema: “Bem, acho que esta é a minha obra-prima”.
Passemos então a falar do filme em si. Tal como Quentin Tarantino disse numa das muitas entrevistas que deu, a história não tem nada de especial, é apenas a trama de um bando de pessoas que vai atrás de outras. Mas tudo muda se esse bando de pessoas que vai atrás de outras for um grupo de touros enraivecidos com descendência judaica, sedentos de vingança de Hitler e de todo o seu Terceiro Reich, orquestrando uma vingança e um ataque que se realmente tivesse acontecido teria mudado toda a História para sempre. ^
Voltando àquilo que não é novidade nos filmes de Tarantino, o argumento desta história é uma autêntica obra de arte. Se analisarmos todo o filme pensando nas palavras que foram escritas para levar àquele conjunto de imagens, conseguimos perceber que um filme destes tem de começar num grande argumentista. E quem refere as imagens refere os diálogos, é impressionante o ritmo e a fluência com que são representadas as principais conversas deste filme. A primeira cena do filme, o encontro entre o Coronel Landa (Christoph Waltz) e Monsieur LaPadite (Denis Menochet) é épica e deveria ficar para a História do Cinema como um dos diálogos mais bem representados de sempre! A beleza das contracenas deste filme deixam-nos totalmente aterrados ao contemplá-las. Percebe-se tão bem que Tarantino transmitiu a todos os actores tudo aquilo que queria até ao último pormenor e volta a não ser novidade as grandes personagens que este homem reinventa para os seus filmes, carregadas de manias e de traços caracterizadores que as tornam únicas.
Quanto a actores, eu diria que estão todos na mesma linha de desempenho, dirigidos por alguém que desde o início da rodagem os inseriu num ambiente que os ajudasse a representar os seus personagens da melhor forma. No entanto, Christopher Waltz tem, na minha opinião, um desempenho que poderá muito bem ser o melhor da década. Alguém que lhe faça frente? Talvez Heath Ledger ou Mo’nique, porque o que este senhor faz neste filme, isto sim é representar. Numa única personagem Tarantino consegue enfatizar a esquizofrenia total que era vivida pelos representantes de um regime mortífero. A forma bizarra como o Coronel Landa actua, as fracas motivações que o levam a matar e a sua forma hilariante de discutir por exemplo “o fim da 2ª Guerra Mundial” à mesa, com dois copos de vinho, marcam aquela que é uma das grandes personagens da década. Brad Pitt está como eu nunca o vi, um desempenho brilhante deste menino bonito de Hollywood que caiu nas teias de Tarantino e finalmente revelou algo impressionante, dando continuidade ao excelente desempenho em “Benjamin Button”. Até o esquecido Mike Myers nos seus 3 minutos de fama consegue estar assombroso. E o Hitler, já vi muitos “Hitler’s”, mas um tão extravagante, delinquente, obcecado e insano como este, penso que não há nenhum e por isso tiro também o chapéu a Martin Wuttke pelo seu desempenho. A única falha que detecto a nível representativo é mesmo a contracena demasiado longa e por vezes enfadonha entre Fredrick Zoller (Daniel Bûrlh) e Shoshana Dreyfus (Mélanie Laurent). É dado demasiado tempo de antena a estes dois actores e corta um pouco o ritmo do filme. Para estas duas personagens era preciso mais genica, mais palavras, menos cortesia e mais raiva e apenas vemos isso na cena em que se matam um ao outro, numa altura em que só queremos perceber o que se vai passar dentro do cinema onde está todo o ninho Nazi. De resto, todos os actores têm performances esplêndidas, com destaque para as personagens de Hugho Stiglitz (Til Schewreiger), Donny Donowitz (Eli Roth), Archie Wicox (Michael Fassbender) e Omar Ulmer (Omar Doom).
Resumindo, “Sacanas Sem Lei” é mais um filme que se insere num estilo desenvolvido por Quentin Tarantino e quem vir o filme tem de o ver devidamente contextualizado neste estilo. O filme acaba ainda por fazer duas coisas que me parecem a mim extremamente importantes: encerra a nível cinematográfico a questão da 2ª Guerra Mundial, dando-lhe o final que merecia com a morte de Adolf Hitler e todos os seus subordinados, e faz uma ponte que será impossível deitar abaixo entre Hollywood e os grandes agentes do cinema europeu.
Por todas estas razões que não representam nem metade daquilo que são os pontos fortes deste filme, venho também tomar uma posição pessoal neste blogue onde posso dar a minha opinião livremente. Se há 15 anos atrás foi imperdoável a derrota de “Pulp Fiction”, perdendo 7 dos 8 Óscars para os quais estava nomeado, parece-me que na actualidade a Academia ter rebaixado novamente o talento e a exclusividade de Tarantino já se trata de uma questão de ignorância, especialmente em prol de um filme como “Estado de Guerra” e de uma realizadora que nada de novo ofereceu à 7ª arte, se a compararmos ao legado deste Mestre. É
espectacular fazermos filmes baseados em histórias verídicas, mas não será mais espectacular fazer filmes que não o sejam? Partindo do zero? Reinventado uma história e criando novos intervenientes? Mal o menos, ainda assim a Academia teve a decência de entregar a Christoph Waltz o mais que merecido Óscar de Melhor Actor Secundário e o mesmo Cristoph Waltz foi um “gentleman” no discurso que fez, atribuindo toda a “culpa” daquele Óscar que ele mesmo ganhou ao maravilhoso mundo de Quentin Tarantino.
Termino esta minha crítica aconselhando fortemente este filme a todos os leitores e fazendo um apelo: abram horizontes a nível cinematográfico para realizadores inovadores e contadores de histórias impressionantes. Não deixem que o nojo ou o sangue ou o sexo sejam as grandes marcas de um filme. Vangloriem ou deitem abaixo os desempenhos dos actores, os cenários, a história e o contexto em que está inserida e o trabalho da direcção do filme.
“Sacanas Sem Lei” é para mim, o perfeito exemplo de que não é preciso um grande projecto cheio de milhões e pormenores excêntricos para fazer um grande filme. Tal como diria o Professor Madeira Correia: KISS – “Keep It Simply Stupid”.
EXAME
Realização: 10/10
Actores: 9/10
Argumento/Enredo: 10/10
Duração/Conteúdo: 10/10
Transmissão da ideia principal do filme para o espectador: 10/10
Média Final: 9.8/10
Crítica feita por Pedro Gonçalves
Informação
Título em português: Sacanas Sem Lei
Título Original: Inglorius Basterds
Ano: 2009
Realização: Quentin Tarantino
Actores: Brad Pitt, Eli Roth, Diane Kruger, Mike Meyers, Michael Fassbender
Trailer do filme:
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3 comentários
Bom, já te disse a minha ideia, mas obrigas-me a vir cá escarrapachá-la, portanto.. :)
ResponderEliminarNão acho que a história da Dreyfus e do Zoller seja chata. Acho que ela pretende representar uma ideia.
No fundo, eles não se odeiam, antes pelo contrário. Só que não podem gostar um do outro, o que é diferente. E por isso, ela prefere detestá-lo e ele prefere manter por ela um interesse puramente sexual. Portanto a questão que o filme levanta é a de como seria a relação deles noutras circunstâncias? Daí eu achar que eles são a história de amor escondido do filme.
Claro que é uma visão muito sentimentalista e tal, mas acho que não estou de todo errada, até pela escolha da música a cena da morte deles ('Un amico', do Morricone) e pela importância que lhes é dada ao longo do filme. E mesmo que eu esteja over-analyzing this, fica pelo menos a questão de que a guerra não tem 'bons' ou 'maus', tem pessoas. E tem as circunstâncias que as limitam.
De qualquer forma, o filme kicks ass :D
Beijinho grande pedrocas
O filme é muito bom.
ResponderEliminarNo entanto, as críticas do Pedro são sempre suspeitas, já o achei na crítica ao "Ensaio sobre a cegueira".
Neste caso as suspeitas multiplicam-se, uma vez que se trata dum filme do Tarantino.
Há que saber separar o fanatismo da crítica.
Olá Hugo,
ResponderEliminarEu sei separar o fanatismo da crítica. No entanto, se eu aprecio o que o Quentin Tarantino faz, é óbvio que vou enaltecer aquilo que aprecio nos filmes dele.
Se reparares, no início da crítica refiro precisamente isso, que sou suspeito para falar do Tarantino. Se reparares, também consigo reconhecer uma falha no filme, por isso não entendo bem ao que te referes com fanatismo. Se o filme, na minha opinião, está quase perfeito, não vou aqui dizer que não está só para eliminar as "suspeitas" que as minhas críticas têm.
Obrigado pelo teu comentário.