O Discurso do Rei (2010)
By Sarah - domingo, fevereiro 13, 2011
"It takes leadership to confront a nation's fear. It takes friendship to conquer your own"
No outro dia tentava encontrar uma única palavra para descrever este filme e houve alguém que sugeriu: “inspirador”. Não se podia adequar melhor. Tom Hooper pegou numa história simples e algures perdida nos meandros da 2ª Guerra Mundial e realizou um filme épico, único e refrescante. Oferecendo uma visão redutora à actual actividade cinematográfica: temos o terror, as comédias, os romances, a acção, o drama e mais alguns. E depois temos o “Discurso do Rei”. Se tenho condenado a Academia à forca com algumas das escolhas que faz, desta vez dou o braço a torcer e parece-me que 12 nomeações é um número totalmente justo para esta obra-prima.
E quem diria que estamos na presença de um realizador que sempre se dedicou às lides televisivas das mini-séries. A mestria com que este filme é realizado, eu sem hesitar atribuiria a Scorcesse, a Tarantino, a Meirelles e a tantos outros que espalham tanta magia por esses ecrãs em todo o mundo. Tom Hooper explora o lado mais natural e ao mesmo tempo mais brutal de uma história que identificou um povo e uma época. Basicamente, a personagem de Colin Firth é o Rei George VI de Inglaterra, que adquiriu este título depois do seu pai falecer e do seu irmão abdicar do trono. No entanto, em plena 2ª Guerra Mundial, o povo precisava de um líder com voz firme para enfrentar a guerra e a ira alemã. E é assim que perante a sua gaguez, o Rei George VI procura os serviços de Lionel Logue, um terapeuta da fala com métodos peculiares.
A relação construída entre estas duas personagens é apaixonante e é consolidada de uma forma grandiosa. A rejeição inicial do Rei George aos métodos de Lionel e a forma como se vai deixando ir nas suas manhas conferem àquela história ainda mais realidade e potencialidade. Lionel age como se conhecesse “Bertie” (como carinhosamente lhe chama) desde há muitos anos e conquista a sua confiança duma forma inacreditável, acabando mesmo por se tornar seu conselheiro. Para mim, são duas personagens épicas, construídas duma forma íntegra e perfeita. Todo o filme anda à volta destes dois intervenientes e essa perspectiva é um autêntico deleite para os nossos olhos.
Temos ainda algumas sequências de humor ligeiro e de descontração, que ajudam a compreender e a digerir o filme. O diálogo boémio e de certa forma um pouco excêntrico das personagens são também uma particularidade atractiva deste filme. Volto ainda a Tom Hooper que capta planos perfeitos com a câmara e arranca das suas personagens o melhor que elas têm para dar. O argumento é genial e transporta uma carga emocional e um impacto para toda aquela sequência de imagens que enriquece cada segundo deste filme. A banda sonora é mais do que suficiente e o trabalho que é feito com os cenários e com a fotografia é também de aplaudir.
Depois há uma analogia que poderá não chegar a todos os espectadores. Enquanto o rei discursa, há toda uma sequência de imagens que mostra pessoas nervosas, ansiosas, apreensivas e arrepiadas com as palavras de um líder que deve representar voz e a intenção de um povo. Hoje não há nada disso, lembro-m
e de pensar que estava de facto a ver um filme que retrata algo que aconteceu há muitos anos atrás e adorava que todos reconhecêssemos toda aquela autoridade e todo aquele poder na voz de um líder. Tudo o que gira à volta daquele Rei George VI é de arrepiar. Enfim, se eu continuar penso que não vou conseguir parar de falar deste filme. Volto a dizer que se 2010 foi um ano para esquecer, 2011 brinda-nos com este esplêndido filme que merece todo o crédito que está a ter. E apenas para vos colocar mais um pouco de água na boca, a cena final desta película, em que é feito o verdadeiro “Discurso do Rei” deveria entrar para a História do Cinema.
Para terminar, sei que os nomeados para Melhor Actor provém de cinco interpretações dignas de muitos prémios (esperem só para ver James Franco em 127 Horas), mas se o Óscar não for para Colin Firth, nunca mais falo sobre os Óscares em lado nenhum, apaga-os totalmente das minhas opiniões. Um trabalho soberbo, uma personagem que nos causa arrepios! Quanto a Geofrey Rush, uma mestria inabalável, que penso que apenas será ultrapassada por Christiane Bale em “The Fighter”. Apenas para não deixar de falar de Helen Bonham Carter, sou suspeito para falar do legado de Tim Burton, mas não me impressionou nada mesmo, está igual a ela própria, digo dela o que já disse do Johnny Depp, parece que não se desligam de certas personagens que interpretam. Tinha curiosidade em ver Michelle Williams ou Reneé Zellweger a desempenhar este papel.
Um grande filme, que poderá muito bem bater recordes. Inspirador, arrepiante, emocionante e épico.
EXAME
Realização: 9.5/10
Actores: 9/10
Argumento/Enredo: 10/10
Duração/Conteúdo: 9/10
Banda Sonora: 9/10
Fotografia: 9.5/10
Transmissão da ideia principal do filme para o espectador: 9.5/10
Média Global: 9.4/10
Crítica feita por Pedro Gonçalves
Informação
Título em português: O Discurso do Rei
Título original: The King's Speech
Ano: 2010
Realização: Tom Hooper
Actores: Colin Firth, Geoffrey Rush, Helena Bonham Carter, Jennifer Ehle, Guy Pearce, Derek Jacobi, Timothy Spall, Michael Gambon
Trailer do filme:
16 comentários
Boa crítica, a um bom filme, um bom candidato aos Óscares deste ano e o único que me deixa com esperanças de ver surpresas (e não ver The Social Network levar "tudo" para casa).
ResponderEliminarNão acho o argumento genial, mas acho que é uma boa história. Dificilmente o Tarantino fazia este filme, parece-me ;p
Gostei imenso do texto, e concordo com todos os aspectos abordados.
ResponderEliminarJames Franco realmente está sublime em 127 horas, mas Colin Firth consegue ultrapassá-lo, não há dúvidas.
Cumprimentos
Uau, Pedro. Adorei esta crítica, das melhores que já escreveste, se não a melhor mesmo.
ResponderEliminarDe facto, é mesmo inspirador. Colin Firth está completamente brilhante e Geofrey Rush é um senhor que steals the show, imbatível. Apesar de Helen Bonham Carter estar na mesma linha de filmes anteriores, considero que é uma boa performance por parte da actriz.
A história do filme não está é perdida nos meandros da 2ª Guerra Mundial, mas sim mesmo no despertar desta guerra. Acho fenomenal, o Rei George VI é o líder que a nação precisa, no entanto há este obstáculo de discurso que precisa de ultrapassar. Achei genial o magnífico pormenor na cena em que o Rei observa um discurso de Adolf Hitler com as filhas, em que uma delas pergunta "O que é que ele está a dizer?" e o Rei diz "não sei, mas parece-me que o está a dizer muito bem". De facto, Adolf Hitler hipnotizava multidões, característica essa que o permitia ser um comunicador e um orador lendário.
A fotografia é de arrepiar, as sequências soberbas e adoro os closer shots da câmara, geniais. Adorei este filme e não podia concordar mais com a pontuação que deste !
Não li a crítica pois acho que darei uma hipótese ao filme. Mas ninguém acha que parece muito only made for Oscars? Firth foi genial em A Single Man.
ResponderEliminarFrank and Hall's Stuff
Ainda não vi o filme, mas Pedro, a tua crítica deu-me ainda mais vontade de ir vê-lo, adorei, muito bom trabalho :D
ResponderEliminarBruno, muito bem apontado, adorei Colin Firth em A Single Man, verdadeiramente genial, que interpretação soberba!
ResponderEliminarOlá Sarah! Vim agradecer o carinho de ti com o meu blogue. Muito obrigado! Parabéns pelo excelente espaço que tens. Realmente pulsa cinema. Devorando os posts, rs
ResponderEliminarJá adicionei o teu blog ao meu e estou seguindo também!
Abraços :)
O filme é competente, mas não é nada demais. O rei George VI de Inglaterra não pode ser comparado a figuras históricas como Gandhi, pelo que o filme deve ser mais querido aos britânicos. O ponto alto do filme é mesmo a caracterização e o elenco e , dentro deste, mais Geofrey Rush (um grande senhor da representação!) do que Colin Firth.
ResponderEliminarMuito boa crítica Pedro. Eu já gostava muito do Tom Hooper antes... Eu que não sou grande adept de futebol adorei o anteriro filme dele com o grande Charlie Sheen, o "Damned United". E não sei porque ficas espantado por ele só por normalmente realizar séries e tele-filmes... Os realizadores de televisão são os que fazem mais coisas diferenças, com um orçamento mais restrito e em menos tempo de gravação pelo próprio ritmo de gravação... Fazer o King's Speech seria brincadeira para alguém com a mestria adquiridade Hooper por esse passado.
A ver se o Colin Firth leva o Oscar, que já anda a merecer...
Desta vez estamos completamente de acordo Pedro.
ResponderEliminarDos grandes nomeados dos Óscares apenas não vi ainda o the fighter, e por isso posso dizer que por mim este filme levava o melhor argumento, fotografia, realizador, filme, actor principal e o secundário não dou certezas porque lá está, ainda não vi o Christian Bale.
Quanto à competição do actor principal do 127 horas, já o vi e está muito bem. Mas Colin Firth dá cartas neste filme. Eu não dava muito por ele como actor e neste filme fiquei de queixo caído.
O filme é épico na minha opinião, não tem género.
Vi este filme e não o achei nada de fantástico.
ResponderEliminarOs actores representam os seus papéis muito bem. Colin Firth está deveras excelente e nunca pensei que fosse capaz de representar tão bem.
É um filme que se vê bem, mas não há nada nele que eu possa dizer que achei fantástico e que me tenha cativado mesmo (a representação não foi o suficiente para tal).
Nem a História, nem a história me cativaram. Aliás, para a altura que era, há histórias reais da História bem mais interessantes que esta e bem mais marcantes. Devo dizer que a parte que achei mais interessante no filme foi a parte em que apareceram os vídeos de Hitler (porque é uma personagem Histórica que adoro e não me farto).
Só houve uma representação da qual não gostei, que foi a de Winston Churchill. Achei exagerado e irreal aquela "deficiência" que ele tinha na língua. Churchill não falava assim... Pareceu-me que o quiseram fazer parecer "deficiente" à força no filme. A postura do actor também fazia lembrar uma pessoa bruta e fria demais. Ainda pensei que tivessem tentado fazer um Churchill "cómico", mas mesmo vendo por essa perspectiva, estava muito mal.
Hum, histórias reais da História bem mais interessantes do que a abordada no filme e bem mais marcantes... posso concordar com o mais interessantes; realmente, o filme começa em 1925 e acaba em 1939, durante esse período aconteceram outras coisas mais "interessantes" em outros pontos do globo, mas de facto esta parte da História da Inglaterra foi marcante. Pode não ter sido marcante a nível mundial, mas foi importante para o país. Contudo, compreendo o que queres dizer.
ResponderEliminarConcordo plenamente com o teu negativismo face à interpretação de Winston Churchill. Já não sou muito fã do actor que o interpreta, Timothy Spall, sempre achei-o muito irritante (particularmente em Sweeney Todd e como Peter Petigrew nos filmes de Harry Potter); a única performance que gostei dele foi em The Damned United igualmente realizado por Tom Hooper.
Como Churchill achei demasiadamente forçado.
Diogo F: sim, claro que este filme nunca seria atribuído ao Tarantino ahaah, se fosse teria de ter ali muitas diferenças! Apenas referi o Tarantino como mestre do cinema!
ResponderEliminarAnónimo: Obrigado pelo comentário. E sim, se há coisa que impede Franco de ganhar, só mesmo Firth pelo seu brilhante Discurso do Rei.
Jota: Não referi na crítica essa referência a Adolf Hitler, mas é um grande desafio para o espectador reconhecer aspectos positivos naquele que foi um dos maiores Demónios da História.
Bruno Cunha: Não acho que tenha sido only made for oscars e brevemente vamos escrever aqui um post em que vou dizer porquê.
Sarah: Vai ver! Filme obrigatório!
rodman: Exacto, não fico espantado, os realizadores de televisão e de mini-séries passam por obstáculos, restrições e pressões que muitos cineastas não têm de aturar. A minha referência a esse facto foi apenas porque por vezes metemo-nos aqui a falar dos legados de grandes realizadores para fazer referência a um ou outro filme premiado e desta vez Tom Hooper, um filho da televisão, arrebata toda a actual actividade cinematográfica. Uma obra-prima a meu ver.
Hugo: Finalmente de acordo! Em relação aos Óscares, acho que a Academia não vai dar todos esses prémios ao filme e brevemente irei aqui explicar porquê.
José: Se há histórias mais interessantes ou não, isso fica inerente à perspectiva de cada um. No entanto, acho que isso não será um argumento válido para deitar este filme abaixo. O cinema é um espaço amplo, aparece de tudo na 7ª arte, cada história tem o seu espaço e o "Discurso do Rei" tem aqui o seu. É uma história simples e apaixonante e na minha opinião deve ser avaliada no seu contexto, sem pensar noutras que poderiam ter sido melhores e que metem sujeitos como Hitler que já estão fartos de ser abordados.
Em relação ao Churchill, penso que vai ser um dado de ainda maior relevância quando saírem os óscares e brevemente explicarei aqui porquê. Concordo com a Joana, a escolha do actor foi totalmente infeliz.
Joana: Foi importante não há dúvidas nisso.
ResponderEliminarPedro: Não é argumento e, logo, nem é válido, Pedro. Não tentei usar isso como argumento. Desculpa se me fiz entender dessa maneira. Apenas queria deixar a mensagem de que há muitas personagens Históricas dessa altura que ninguém se atreve a pegar, ou pegam pouco, ou quando pegam, pegam razoavelmente ou mal :) Mas se Hitler está "farto" de ser abordado, então está "farto" de ser mal abordado, pois ainda não vi um filme ou mini-série que retratasse com fidelidade toda ou grande parte da sua vida. "Der Untergang", por exemplo, pega razoavelmente no final de vida de Hitler... Tens também uma mini-série americana chamada "Hitler: The Rise of Evil", que tem muitas falhas que o fazem fugir à realidade dos acontecimentos da altura. Hitler é um exemplo em que já pegaram, mas muito incompletamente e muito aquém do potencial que tem como história, pois existem muitos que poderiam ser abordados da mesma altura como Estaline, Lenine, o próprio Winston Churchill, Eisenhower, Montgomery, Roosevelt, Mussolini e tantos outros.
O espaço d'O Discurso do Rei no cinema não está em causa. O filme está muito bem representado, como já referi e como também já disse é um filme que se vê bem. Apenas foi um filme que não me cativou no geral. A história "simples e apaixonante" foi para mim "simples e engraçadita".
Quando se diz farto de ser "abordado" também se refere a ser citado ou mencionado e não obrigatoriamente um filme biográfico só sobre o Hitler, creio.
ResponderEliminarÉ certo que há muitos "pecados" de filmes acerca do Hitler, mas por exemplo o Alec Guiness no Hitler: The Last Ten Days (1973) foi +/-, e Antony Hopkins no The Bunker (1981) foi razoável. Contudo, Bruno Ganz foi perfeito no Der Untergang (2004), e daí discordar com o "pega razoavelmente".
Oliver Hirschbiegel, o realizador, fez um excelente trabalho com o filme, e não sei se viste o filme Das Experiment mas também é muito bom e é desse realizador. Mas agora não quero pegar muito no Der Untergang porque já tou quase a acabar a crítica e discute-se depois xD
Uma palavra apenas: Sensacional!
ResponderEliminarÓscar para Firth e Rush se faz favor... Ambos estão verdadeiramente soberbos.
Só agora é que me lembrei de vir aqui responder.
ResponderEliminarPois Joana, mas para mim "abordado" foi interpretado como "abordado" no seu significado "principal", no contexto em que se insere, ou seja, "abordado" foi interpretado por mim como: debruçar-se sobre determinado assunto e não apenas referir ou fazer breves/simples alusões.
Não percebeste bem. O meu problema não são só os actores. É certo que é necessária uma boa representação para haver um bom filme, mas também são necessários outros pormenores. Só isso não chega. Não falo de "Der Untergang", visto que se começa-se a comentá-lo especificamente, o mais provável era falar logo de tudo o que me vinha à cabeça no momento e depois iria repetir-me quando fizesses a crítica. Digo apenas que acho que nenhum filme que tenha Hitler como uma personagem mais central ou até principal, se saiu excelentemente e para mim que gosto muito dele como personagem Histórica, só me vai satisfazer uma coisa fantasticamente excelente, creio.
Um exemplo e um erro mais do que comum nos filmes que focam parte da vida de Hitler ou que tratam de qualquer pessoa ligada ao Estado e apoiante de Hitler, é que metem os actores que representam essas personagens a dizerem "nazi", quando esta palavra era usada pelos opositores ao nacional-socialismo como forma de injuriar. É deveras ridículo ver isso por vezes e demonstra o quanto as pessoas que orquestraram o filme sabem do tema que estão a tratar...