The Baader Meinhof Complex (2008)
By Jota Queiroz - sábado, fevereiro 12, 2011
“The children of the Nazi generation vowed fascism would never rule their world again."
Dez anos após a extinção da RAF, ou do grupo Baader-Meinhof, a indústria cinematográfica alemã brinda-nos com Der Baader Meinhof Komplex. É um filme baseado no livro biográfico com o mesmo nome de Stefan Aust, que retrata a história da RAF. A História Contemporânea da Alemanha não só é negra como também muito “comercializável”; dá para fazer inúmeros filmes sobre essa época, pois há sempre muitas temáticas a abordar.
O filme tem lugar na Alemanha, em finais da década de 60/década de 70. Nesse período imperavam ataques bombistas e assassinatos, por parte de um fanático grupo: RAF (Rote Armee Fraktion/Red Army Faction) . A RAF era uma facção de extrema esquerda que se destacava de outros grupos radicais que ameaçavam a democracia do território alemão Ocidental, devido à violência das suas acções. O seu principal objectivo era unificar a Alemanha à ideologia comunista da URSS, como também lutar contra o imperialismo americano e um Estado fascista, para criar uma sociedade mais humana. No entanto, os métodos utilizados pelos membros eram desumanos. Eram um grupo com uma ideologia comunista; espalhavam o terror e pânico numa época da Alemanha pós-guerra. Nessa época havia uma enorme fragilidade política e económica, devido à divisão do capitalismo e comunismo.A tríade principal da RAF era constituída por Ulrike Meinhof, por Andreas Baader e Gudrun Ensslin.
O argumento gira em volta desse movimento que rondou a Alemanha durante alguns anos. Claro está, é fortemente baseado em factos históricos, apesar de alguma dramatização. É natural que se houver pessoas que não tenham conhecimento algum sobre a RAF podem ficar um bocadinho confusos com o conteúdo do filme. O filme mostra-nos as origens e efeitos das acções da RAF, como também as suas ideologias. O filme não nos dá muitas respostas em concreto, nada de explicações teóricas, tudo é dirigido para a acção. Nesse sentido, não existe um brilhante e conclusivo final.
O filme pode ser dividido em duas partes. Uma primeira parte, mais apagada e slow paced em que nos é apresentado Ulrike Meinhof, pacata e aparentemente uma mãe dedicada. Após as manifestações estudantis de 1968, Meinhof deixa a sua família, juntando-se aos activistas Andreas Baader e a Gudrun Ensslin, formando a RAF. Assim, a primeira parte do filme é uma introspecção às acções destes três e à maneira como eles conseguem dissuadir a polícia durante 5 anos. Foca também as relações diplomáticas que tinham com organizações terroristas que partilhavam o “ódio” pelos EUA. Uma segunda parte, em que após a prisão dos membros originários, a RAF é formada por uma nova geração ainda mais violenta, liderada por outra mulher. Brigitte Mohnhaupt elabora uma série de atentados contra alvos alemães (que relatam os dois ataques que de Outono de 1977).
O filme são duas horas e meia de lições de História. Claro que, devido à variedade de eventos e personagens, o filme nunca se torna aborrecido, antes pelo contrário. Um outro problema é que,se na primeira parte tudo é slow paced na segunda a acção passa-se à velocidade da luz. É tudo muito rápido, sequência após sequência. Isto deve-se ao facto do filme ser 99% fiel ao livro, pelo que retratam todos os acontecimentos, o que obriga a colocar 10 anos bem retratados em duas horas e meia. A introdução às personagens é feita, mas apenas Meinhof tem direito a uma maior profundidade. Porém, acho que esse desenvolvimento é necessário (ok, nem todas as personagens precisam de um background), mas de repente vemos muitas personagens novas que não foram bem introduzidas. Ao menos explicavam como é que recrutaram essas novas personagens para o grupo (as da 2ª geração). Se o realizador optasse por desenvolver cada uma das personagens interessantes o filme tornar-se-ia infindável, o que não daria muito jeito; assim, não era mau pensado dividir o filme em dois. Uli Edel optou por uma violência e conteúdo sexual durante o filme ao qual os espectadores acabam por se habituar, não chocando muito. As sequências de acção estão bem filmadas e muito bem feitas, especialmente as explosões. A atmosfera de anos 70 impera, literalmente pensamos que estamos nessa época.
Relativamente a actores, é tudo muito positivo, não só por parte dos actores principais como também pelo elenco que os acompanha. As performances do trio principal Martina Gedeck, Moritz Bleibtreu e Johanna Wokalek são excepcionais e altamente credíveis, como também de Bruno Ganz. Apesar de uma interpretação discreta, foi impecável.
Em suma, Der Baader Meinhof Komplex mostra que o cinema europeu é bastante valioso, e que consegue ser mais consistente do que o americano. É um filme denso e fascinante, porém poderia ser melhor em alguns aspectos. Retrata um pedaço de História alemão que as pessoas deviam conhecer. Para quem não tem paciência para ler o livro ou ver documentários, vejam o filme.
EXAME
Realização: 8/10
Actores: 9/10
Argumento/Enredo: 9/10
Duração/Conteúdo: 7/10
Transmissão da ideia principal do filme para o espectador: 7/10
Média Global: 8/10
Crítica feita por Joana Queiroz
Informação
Título em português: O Complexo Baader Meinhof
Título original: Der Baader Meinhof Komplex
Ano: 2008
Realização: Uli Edel
Actores: Martina Gedeck, Bruno Ganz, Moritz Bleibtreu, Johanna Wokalek
Trailer do filme:
5 comentários
Excelente crítica, muito bem escrita. Consegues descrever a essência do filme, mas é mesmo necessário vê-lo para sentir.
ResponderEliminarO cinema alemão está cada vez melhor! Recomendo vivamente este filme.
Parabéns e continua a escrever.
Cumprimentos
"para criar uma sociedade mais humana. (...) os métodos utilizados pelos membros eram desumanos"
ResponderEliminarSociedade mais humana? A sociedade é sempre "humana" a partir do momento em que é composta por humanos.
Não eram humanos? Claro que eram. Os métodos foram planeados por humanos e executados por humanos. Logo, são humanos. Mania de usarem “Humanidade” e seus derivados para se referirem aos “actos bons” da nossa espécie, quando tal palavra e seus derivados apenas se referem à espécie humana e mais nada! Nem ao bom, nem ao mau.
Era importante relembrar que a Segunda Guerra Mundial tinha acabado há pouco tempo e pessoas que ocupavam certos cargos na Alemanha Nacional-socialista, ainda os ocupavam na actualidade, ou tinham passado a ocupar cargos no Estado e na política. Assim, a Desnazificação era vista por muitas pessoas, especialmente pelos estudantes universitários, como um fracasso.
A guerra do Vietname era também vista como um acto imperialista dos EUA (Imperialismo dos EUA) e estes tinham muitas bases militares na Alemanha (Guerra Fria). Tudo isto levou a protestos e formação de grupos de extrema-esquerda. É também importante sublinhar que os alvos da RAF não eram aleatórios, mas empresas, entidades e pessoas ligadas ao Estado, que ainda possuía esses traços da ditadura Nazi, ou bases militares dos EUA.
Concordo quando dizes que houve personagens que foram mal introduzidas e que se calhar não teria sido má ideia fazer em duas partes. Mas isto já implicava um financiamento extra por parte das produtoras que, infelizmente, nem sempre existe.
Contudo, gostei imenso do filme e para mim foi o melhor desse ano =P
Muito brigada :), e concordo, o cinema alemão está cada vez melhor.^^
ResponderEliminar@ José: Tens razão, e concordo com essa má utilização da palavra Humanidade e seus derivados, mas quando disse “desumanos” disse-o no sentido de um trocadilho. A RAF tinha princípios e objectivos de acabar com o imperialismo e com o fascismo, querendo tornar uma sociedade mais “humana” e solidária. Acabaram por tomar medidas que só fizeram com que esse objectivo se tornasse cada vez mais difícil de atingir.
Eram humanos no sentido denotativo, no sentido em que são humanos pois foram idealizados por humanos.
Sim, a guerra do Vietname era vista como um acto imperialista dos EUA, daí o “fuzz” anti-imperalista todo em redor dela, e consequente formação de grupos radicais.
Não disse que os alvos eram aleatórios, mas realmente não especifiquei. No entanto, acho que no meu discurso está implícito. Quando digo que a RAF quer uma sociedade melhor e "mais humana" é implicito que os alvos são as pessoas que fazem com que isso não aconteça, e não o cidadão comum. E se escrevi que querem derrubar o Estado fascista, parece-me bastante óbvio =P.
Concordo com o que tu dizes, realmente implicava um financiamento extra e que “nem sempre existe”, contudo não havia falta disso. O filme foi caro, e aliás nota-se bastante devido aos recursos utilizados e afins, portanto nem foi por questões de dinheiro. Atenção que não estou a dizer que filmes caros é que são bons, não, há muitos filmes excepcionais que são low-budget. Apenas acho que foi opção de Uli Edel não mexer no argumento, e nem o prejudicou assim tanto.
Pois, mas como não especificaste, achei que era melhor eu especificar =P
ResponderEliminarSim, nota-se que houve um bom financiamento, mas uma coisa é fazer um filme de 2 horas e meia, outra é fazer 2 filmes que no total de horas poderiam estender-se para as 4 horas ou mais, se eles contassem muito pormenorizadamente o que aconteceu. O que quero dizer é que iriam gastar mais dinheiro se fizessem 2 filmes com a mesma "qualidade" deste.
Baixar o Filme - O Grupo Baader Meinhof - [Der Baader Meinhof Komplex] - http://mcaf.ee/f4s16
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