Aristides de Sousa Mendes - O Cônsul de Bordéus (2012)
By Rodrigo Mourão - sábado, novembro 24, 2012
O Schindler português não foi "Schindler" nenhum no cinema...
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Como não podia deixar de ser, o filme retrata (ou pelo menos devia retratar) Aristides de Sousa Mendes, um homem de convicções que salvou 30 mil vidas durante a Segunda Guerra Mundial, incluindo 10 mil judeus. Como cônsul geral português na cidade de Bordéus, em França, emitiu vistos para entrada em Portugal a todos os refugiados, sem olhar a nacionalidade, raça, religião ou opiniões políticas. Dessa forma, desafiou as ordens directas do governo de Salazar e foi condenado à pobreza e ao esquecimento.
Até me custam as próxima linhas que tenho que escrever, mas cá vai disto... Começando pela história, esta é daquelas típicas, contada na perspectiva de um refugiado, neste caso um rapaz judeu (ah, que nasceu na Polónia, mas que afinal vivia noutro país quando nos mostram a história dele, falava português, foi para Bordéus e depois foi para Caracas tornando-se espanhol! Perceberam?) chamado Aaron Appelman (João Monteiro). Qual o problema disto? Uma personagem que deveria ser secundária passa a ser o centro da acção e tudo o que queremos ver sobre Aristides (que deveria ser o protagonista pelo nome do filme) e sobre a situação de guerra, tem que ser filtrado pelos olhos do rapaz... Como podem perceber, isto faz com que as acções de Aristides (e a sua evolução) não sejam representadas de forma desenvolvida e tudo pareça um pouco artificial. Neste cocktail de coisas que não lembram ao senhor, cai do céu a personagem de São José Correia, que desaparece tão depressa como apareceu (nos filmes portugueses tem sempre que haver uma moça gira, não é? Nem que seja por 5 segundos...)
Querem que vá mais aos pormenores? Não deixa de ser interessantíssimo que em Bordéus toda a gente fale português, nas mensagens de telefonia/ rádio se fale francês e inglês (neste ponto, deve ser a única parte coerente do filme) e, naquele que é o maior mistério do filme, num posto fronteiriço França-Espanha os guardas falem ambos português e , no outro, um fale Portunhol e o outro não abra o bico (deve ser mudo, coitado...).
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No plano técnico o filme é competente: tem uma agradável fotografia digna de cinema europeu, assim como planos de câmara bem enquadrados.
A banda sonora, a cargo do belga Henri Seroka, é bastante interessante e bonita (e tem uma forma bastante curiosa de se ligar com o filme), ao nível de algumas do género que se fazem noutros filmes lá fora.
Enfim, este é daqueles filmes que nos desiludem pela grande expectativa que criam, não passando esta fita de uma homenagem superficial e tímida à grande figura que foi Aristides de Sousa Mendes (é que nem mostram a sua vida até ao fim e eu queria vê-lo a confrontar o governo de Salazar em Lisboa e a viver na miséria, ou seja, a sofrer as consequências), que decerto merecia bem mais. Ao menos, no plano técnico, demonstra uma vontade de evolução do cinema português, o que é sempre bem-vindo...
EXAME
Realização: 6.5/10
Actores: 6.5/10
Argumento/Enredo: 5/10
Duração/Conteúdo: 5/10
Banda Sonora: 7.5/10
Efeitos/Fotografia: 7.5/10
Transmissão da principal ideia do filme para o espectador: 5/10
Média Global: 6.1/10
Crítica feita por Rodrigo Mourão
Informação
Título em português: Aristides de Sousa Mendes- O Cônsul de Bordéus
Título original: Aristides de Sousa Mendes- O Cônsul de Bordéus
Ano: 2011 (estreia pública mundial no ano de 2012)
Realização: João Correia e Francisco Manso
Actores: Vítor Norte, Carlos Paulo e João Monteiro
Trailer do filme:
6 comentários
Eu ainda não vi este filme, mas tinha curiosidade. Lendo a tua crítica já não tenho tanta... esperava que este filme fosse um novo olhar sobre o cinema português. Haverá esperança para alguma qualidade a 100%?
ResponderEliminarAcabei de ver o filme e fiquei igualmente desiludida!! Estava à espera de um filme (pela importância da personagem) com um forte impacto, bem construído sobre a pessoa que foi Aristides... Mas afinal pareceu quase uma homenagem ao rapaz e nao a quem salvou milhares de judeus de morte cruel! Enfim ... Esperava um retrato mai detalhado, mais fiel e com alguma 'emoção' numa época de grande tormenta, crueldade e desrespeito pelo ser humano!
ResponderEliminarAcabei de ver o filme e fiquei igualmente desiludida!! Estava à espera de um filme (pela importância da personagem) com um forte impacto, bem construído sobre a pessoa que foi Aristides... Mas afinal pareceu quase uma homenagem ao rapaz e nao a quem salvou milhares de judeus de morte cruel! Enfim ... Esperava um retrato mai detalhado, mais fiel e com alguma 'emoção' numa época de grande tormenta, crueldade e desrespeito pelo ser humano!
ResponderEliminarSou do Brasil, vi o filme ontem à noite na TV e inacreditavelmente, foi na TV francesa (TV5 Monde). Confesso que nunca tinha ouvido falar em Aristides de Sousa Mendes e foi uma grata surpresa tomar conhecimento de sua existência. Os portugueses devem mesmo ter orgulho de seu compatriota. Quanto ao filme, gostei bastante pois retrata com qualidade técnica e boas interpretações, sem pieguice e sem exageros dramáticos, essa figura fundamental para tantos milhares de pessoas.
ResponderEliminarAcabei de descobrir que o filme a que me referi acima não é o mesmo a que vocês se referem e sim, uma produção francesa de 2008 (por sinal, muito bom filme). Peço desculpas pelo engano. O filme português eu não conheço, não foi exibido no Brasil. Vou tentar vê-lo na internet.
ResponderEliminarSaudações. a versão portuguesa pode ser vista aqui. http://www.youtube.com/watch?v=agL93dwTkDM
ResponderEliminaras observações não podiam ser mais justas. tecnicamente está a um bom nivel mas o argumento ... acho que seria mais justo chamar-se Franciso de Almeida uma vez que é a personagem principal é dela que ficamos a saber onde nasceu os pais, tinha irmã, como foi o seu percurso, o que fez mais tarde na vida... fiquei muito desiludido.