"Father. Mother. Always you two wrestling inside me."
Saí do cinema um pouco atordoada, sem saber o que pensar mas ter muito que processar. É de difícil tarefa falar sobre The Tree of Life, pois não há como o fazer. Este filme não é para ser explicado, mas sim para ser visto e ser visceralmente sentido na sua total dimensão. A sua unicidade que intimida faz com que ainda esteja a teorizá-lo e a digeri-lo, definitivamente.
O filme tem como história…bem, não há como definir a “sinopse” do filme, pois basicamente tem como principal tema a vida, em toda a sua dimensão. Desde a origem dos primeiros átomos que desencadearam as primeiras reacções para a origem do Universo, até à sua expansão na criação do tempo e matéria; a origem e crescimento do Planeta Terra, os dinossáurios; o crescimento na América dos anos 50 à vida no mundo pós-moderno onde os edifícios arranham o céu. Tudo isto tem o seu background na história de uma família, em que acompanhamos Jack (Hunter McCracken enquanto criança, Sean Penn em adulto) desde o seu nascimento até à idade adulta, da perda da pureza à transformação num homem maduro que é parte integrante da civilização pós-moderna. Jack, o mais velho de três irmãos, é educado segundo duas visões contraditórias da realidade: a ternura e conforto da mãe (Jessica Chastain) e autoritarismo do pai (Brad Pitt).
O filme é de facto bastante especial e pouco ortodoxo. Vai de encontro aos filmes da nova Hollywood (e ainda bem). O filme tem uma narrativa pouco linear, temos por um lado a vida de uma família texana nos anos 50 e em paralelamente vemos uma cidade urbana e moderna que dá lugar a um Jack adulto muito desorientado. Na minha opinião, o filme é arrítmico, digamos assim, porque creio que mesmo não tendo uma linha de narrativa poderia ser um filme com menos paragens. É bastante parado às vezes, tendo os seus momentos altos na personagem de Brad Pitt, expressões do Sean Penn e as imagens arrepiantes do Universo ao som de uma belíssima banda sonora. Contudo, não é intenção de Malick dar-nos um filme óbvio com uma determinada linha. É nossa tarefa deambular entre magníficos planos, como manipulados pelo realizador. O enredo avança com muito pouco diálogo, basicamente muito ao estilo de Malick com as vozes off sussurrantes (que confesso que a dada altura já não conseguia com a frase “father, mother”). Só acho que a transmissão da mensagem poderia ser feita de outra maneira. Considero que a premissa é excelente mas não é concretizada na sua totalidade. O filme seria excelente em versão de documentário. Eu vejo muitos, e este seria o meu favorito de certeza.
Terrence Malick dá-nos uma experiência sensorial perfeita, e é realmente no abstracto que o realizador se dá melhor. Magníficos closer shots e os planos são incrivelmente bem planeados. As cenas do espaço são irremediavelmente as minhas favoritas, devo dizer, são impressionantes e até comoventes- mostram o quão pequenos realmente somos, dentro de tamanha imensidão. Todas as imagens são memoráveis e escolhidas a dedo por Malick, tudo surge exactamente quando tem que surgir. É na cinematografia que o filme tem todo o seu esplendor, é de facto arrebatador e só por isso vale a pena ter esta experiência no cinema. Toda a fotografia e edição estão assombrosas, o nível técnico é o principal destaque de The Tree of Life. A abordagem do realizador é muito interessante. Terrence Malick fez algo tão transcendente que o nosso cérebro não consegue absorver tudo de uma vez. Malick empurra-nos para diversas dicotomias, que vão deste a ternura da Mãe e a rigidez do Pai, o Bem e o Mal e ao início da vida e à conclusão; Malick mostra-nos que tudo tem um início e um fim, mostrando-nos da Criação ao colapso do Universo. Contudo, acho que esta perspectiva evolutiva poderia estar ainda melhor se fossem incorporados outros elementos. Sim, o filme não se centra nisso, mas poderia tornar-se ainda mais interessante. Somos bombardeados com tal esplendor que depois sentimos que queríamos mais. O festival de cores e dinâmica visual é completamente perfeito. Sem dúvida, Malick brinda-nos com uma obra metafísica do Cinema.
A interpretações dos actores é também um grande destaque no filme. Tenho pena que Sean Penn entre tão pouco no filme, mas a sua presença já diz tudo. É um magnífico actor, e o seu não verbal diz tudo. As crianças são uma surpresa, especialmente Hunter McCracken que interpreta Jack, e Jessica Chastain está competente. Brad Pitt está absolutamente brilhante e é nele que foco toda a minha atenção. Foi imponente e adorei todas as cenas com ele, interpretou magnificamente bem a sua personagem.
O filme transcende em todos os aspectos. Acredito indubitavelmente que há muita gente que não goste; seja pelo estilo peculiar, seja pela complexidade, seja pelos temas abordados, seja pela extensa duração, seja pela narrativa não linear; é um filme que não é para toda a gente, sim, e pode desiludir. Contudo, vale a pena entrar mais uma vez na genialidade de Terrence Malick. Nunca saí de uma sala de cinema assim. Mexeu literalmente com todos os meus sentidos, não parava de pensar nele e na experiência que vivi; agora cabe-me a mim partilhar a experiência com os outros.
EXAME
Realização: 9/10
Actores: 9/10
Argumento/Enredo: 8/10
Banda Sonora: 9/10
Fotografia: 10/10
Duração/Conteúdo: 6/10
Transmissão da principal ideia do filme para o espectador: 6/10
Média Global: 8.2/10
Crítica feita por Joana Queiroz
Informação
Título em português: A Árvore da Vida
Título Original: The Tree of Life
Realização: Terrence Malick
Ano: 2011
Actores: Brad Pitt, Sean Penn, Jessica Chainstain
Trailer do filme:
Saí do cinema um pouco atordoada, sem saber o que pensar mas ter muito que processar. É de difícil tarefa falar sobre The Tree of Life, pois não há como o fazer. Este filme não é para ser explicado, mas sim para ser visto e ser visceralmente sentido na sua total dimensão. A sua unicidade que intimida faz com que ainda esteja a teorizá-lo e a digeri-lo, definitivamente.
O filme tem como história…bem, não há como definir a “sinopse” do filme, pois basicamente tem como principal tema a vida, em toda a sua dimensão. Desde a origem dos primeiros átomos que desencadearam as primeiras reacções para a origem do Universo, até à sua expansão na criação do tempo e matéria; a origem e crescimento do Planeta Terra, os dinossáurios; o crescimento na América dos anos 50 à vida no mundo pós-moderno onde os edifícios arranham o céu. Tudo isto tem o seu background na história de uma família, em que acompanhamos Jack (Hunter McCracken enquanto criança, Sean Penn em adulto) desde o seu nascimento até à idade adulta, da perda da pureza à transformação num homem maduro que é parte integrante da civilização pós-moderna. Jack, o mais velho de três irmãos, é educado segundo duas visões contraditórias da realidade: a ternura e conforto da mãe (Jessica Chastain) e autoritarismo do pai (Brad Pitt).
O filme é de facto bastante especial e pouco ortodoxo. Vai de encontro aos filmes da nova Hollywood (e ainda bem). O filme tem uma narrativa pouco linear, temos por um lado a vida de uma família texana nos anos 50 e em paralelamente vemos uma cidade urbana e moderna que dá lugar a um Jack adulto muito desorientado. Na minha opinião, o filme é arrítmico, digamos assim, porque creio que mesmo não tendo uma linha de narrativa poderia ser um filme com menos paragens. É bastante parado às vezes, tendo os seus momentos altos na personagem de Brad Pitt, expressões do Sean Penn e as imagens arrepiantes do Universo ao som de uma belíssima banda sonora. Contudo, não é intenção de Malick dar-nos um filme óbvio com uma determinada linha. É nossa tarefa deambular entre magníficos planos, como manipulados pelo realizador. O enredo avança com muito pouco diálogo, basicamente muito ao estilo de Malick com as vozes off sussurrantes (que confesso que a dada altura já não conseguia com a frase “father, mother”). Só acho que a transmissão da mensagem poderia ser feita de outra maneira. Considero que a premissa é excelente mas não é concretizada na sua totalidade. O filme seria excelente em versão de documentário. Eu vejo muitos, e este seria o meu favorito de certeza.
Terrence Malick dá-nos uma experiência sensorial perfeita, e é realmente no abstracto que o realizador se dá melhor. Magníficos closer shots e os planos são incrivelmente bem planeados. As cenas do espaço são irremediavelmente as minhas favoritas, devo dizer, são impressionantes e até comoventes- mostram o quão pequenos realmente somos, dentro de tamanha imensidão. Todas as imagens são memoráveis e escolhidas a dedo por Malick, tudo surge exactamente quando tem que surgir. É na cinematografia que o filme tem todo o seu esplendor, é de facto arrebatador e só por isso vale a pena ter esta experiência no cinema. Toda a fotografia e edição estão assombrosas, o nível técnico é o principal destaque de The Tree of Life. A abordagem do realizador é muito interessante. Terrence Malick fez algo tão transcendente que o nosso cérebro não consegue absorver tudo de uma vez. Malick empurra-nos para diversas dicotomias, que vão deste a ternura da Mãe e a rigidez do Pai, o Bem e o Mal e ao início da vida e à conclusão; Malick mostra-nos que tudo tem um início e um fim, mostrando-nos da Criação ao colapso do Universo. Contudo, acho que esta perspectiva evolutiva poderia estar ainda melhor se fossem incorporados outros elementos. Sim, o filme não se centra nisso, mas poderia tornar-se ainda mais interessante. Somos bombardeados com tal esplendor que depois sentimos que queríamos mais. O festival de cores e dinâmica visual é completamente perfeito. Sem dúvida, Malick brinda-nos com uma obra metafísica do Cinema.
A interpretações dos actores é também um grande destaque no filme. Tenho pena que Sean Penn entre tão pouco no filme, mas a sua presença já diz tudo. É um magnífico actor, e o seu não verbal diz tudo. As crianças são uma surpresa, especialmente Hunter McCracken que interpreta Jack, e Jessica Chastain está competente. Brad Pitt está absolutamente brilhante e é nele que foco toda a minha atenção. Foi imponente e adorei todas as cenas com ele, interpretou magnificamente bem a sua personagem.
O filme transcende em todos os aspectos. Acredito indubitavelmente que há muita gente que não goste; seja pelo estilo peculiar, seja pela complexidade, seja pelos temas abordados, seja pela extensa duração, seja pela narrativa não linear; é um filme que não é para toda a gente, sim, e pode desiludir. Contudo, vale a pena entrar mais uma vez na genialidade de Terrence Malick. Nunca saí de uma sala de cinema assim. Mexeu literalmente com todos os meus sentidos, não parava de pensar nele e na experiência que vivi; agora cabe-me a mim partilhar a experiência com os outros.
EXAME
Realização: 9/10
Actores: 9/10
Argumento/Enredo: 8/10
Banda Sonora: 9/10
Fotografia: 10/10
Duração/Conteúdo: 6/10
Transmissão da principal ideia do filme para o espectador: 6/10
Média Global: 8.2/10
Crítica feita por Joana Queiroz
Informação
Título em português: A Árvore da Vida
Título Original: The Tree of Life
Realização: Terrence Malick
Ano: 2011
Actores: Brad Pitt, Sean Penn, Jessica Chainstain
Trailer do filme: