Já conhecia o trabalho das irmãs pelo "Dead Hook in A Trunk", pelo que tinha uma certa expectativa em relação a este. Posso desde já adiantar que, American Mary, apresenta-se como uma película bastante inovadora e com uma visão claramente requintada, sombria e particular, não estando, no entanto, isento de algumas falhas.
O filme conta a história de Mary (Katherine Isabelle), uma promissora e talentosa estudante de medicina, que é vista pelo seu professor (David Lovgren) como capaz de se tornar das melhores cirurgiãs do país. Por esse facto, é constantemente pressionada por este. Só que, estando coberta de dívidas, Mary decide trabalhar como stripper num clube nocturno. Porém, é confrontada com outras opções, pelo que começa a prestar serviços médicos clandestinamente, e entra no meio das cirurgias de modificação corporal clandestinas e bizarras. Tudo corre bem, até que o inesperado acontece...
A premissa, com algumas diferenças óbvias posteriores de execução, faz muito lembrar Excision. Só que American Mary consegue ser melhor, em termos globais. É de destacar, o carácter criativo e inovador trazido pelas irmãs Soska, que com certeza se consolidarão ainda mais dentro do género. Achei o filme único: apesar de efectivamente sádico e sangrento, tem uma vertente psicológica de tensão crescente e de vingança bastante acentuada, que torna inevitável não estabelecermos uma ligação com a personagem. Seguimos intimamente a sua jornada, questionando mesmo a nós próprios, moralmente, como agiríamos. É, sem dúvida, muito interessante de se acompanhar, porque somos levados a um mundo novo, embebido pelo ambiente cibernáutico e estranho, ao mesmo tempo que assistimos ao decair emocional de Mary. Porque verdade seja dita, a premissa não é super original. Mas a sua inserção no universo das modificações corporais, e o aspecto psicológico que referi, é o que o tornam, de facto, original. Há cenas incrivelmente bizarras e assustadoras, mas sempre com um toque de subtileza que as torna muito mais eficazes. Ouso mesmo dizer que, cenas assim tão bem filmadas que roçam tamanha perfeição, quase que parece que foram estudadas "cirurgicamente". Não é o "gore" que assusta neste filme; é mesmo este carácter "cirúrgico" do filme, de uma execução bastante inteligente mesmo. É um filme bastante visual, mas que não troca a consistência da história pela violência exacerbada. Pena é que, por vezes, o filme tende a perder o ritmo, focando-se em situações de pouca relevância. E o final é, na minha opinião, ligeiramente apressado.
É obrigatório referir nesta crítica o excelente desempenho de Katharine Isabelle. A actriz consegue conferir uma multi-dimensionalidade à sua personagem, que é de louvar e extremamente interessante de assistir. Com certeza que é dos pontos altos do filme, pois a sua interpretação é bastante sólida ao longo do filme. Em relação a David Lovgren, proporciona uma performance bastante banal e pouco memorável. Poderá ser pelo facto de estar envolto de personagens do mais extravagante que há, mas mesmo assim, não foi propriamente positivo. Gostei imenso da cameo das irmãs Soska, que estão absolutamente sádicas.
No todo, American Mary assume-se como um filme bastante bom e cativante. É assustadoramente belo e detém todos os elementos essenciais para esse efeito: excelente ambiente (sombrio e "plástico"), personagens completamente diferentes e extravagantes (sem exagerar nos estereótipos desse submundo), grande banda sonora,. Só não é excelente devido a alguns altos e baixos. Enfim, o filme não decepciona, pelo que não poderia deixar de recomendar.
Realização: 9/10
Actores: 8/10
Argumento/Enredo: 7/10
Duração/Conteúdo: 7/10
Transmissão da principal ideia do filme para o espectador: 7/10
Média global: 7.6/10
Crítica feita por Sarah Queiroz
Informação
Título em português: American Mary
Título original: American Mary
Ano: 2012
Realização: The Soska Sisters
Actores: Katharine Isabelle, Antonio Cupo, Tristan Risk, David Lovgren
Trailer do filme: