Melancholia (2011)
Melancholia é, confesso, um filme particularmente complicado de avaliar. Por inúmeras razões. Não só devido ao facto de ser dificílimo de assimilar, na medida em que o grau de complexidade não é baixo, como é igualmente complicado adjectivá-lo. Empolgante? Sem dúvida. Difícil? Certamente, e é aqui que considero que Melancholia e The Tree of Life têm inúmeras semelhanças. Aquela sensação de não saber o que pensar e ter imenso que processar foi algo que senti depois de ver ambos os filmes. Não vou entrar em grande pormenor na comparação dos dois, pois são de facto próximos, mas igualmente distantes. São daqueles filmes "difíceis", que detém perspectivas diferentes, ambas interessantes.
O ponto mais cativante do filme é, indiscutivelmente, a sua cinematografia. Especialmente quando conjugada com uma magnífica trilha sonora, neste caso ao som de Tristão e Isolda, de Richard Wagner . E aqui refiro-me em concreto à cena de abertura (prólogo), uma espécie de montagem com diversas cenas sequenciais que nos dão uma experiência sensorial perfeita. É nesta sequência que nos deparamos com a imagem da futura colisão do planeta Melancholia e a Terra. Melancolia é o nome do planeta que aparentemente está em curso de colisão com a Terra e Lars von Trier trata desse assunto apocalíptico, em uma palavra, de forma arrebatadora. O prólogo é uma abertura fantástica que vai do belo ao assustador, e é assim que Von Trier inicia e nos leva a uma grande viagem que é este filme. Porque é logo de início que Melancholia se torna envolvente e interessante, ao ponto de nos deixar presos ao ecrã.
Claro que Melancholia vai muito além daquilo que aparenta, pois é bastante simbólico e intimista sobre o fim do mundo, conseguindo retratar muito bem a condição humana no estado depressivo e o ter que lidar com o inevitável final da vida, entre outras coisas. Gosto especialmente da abordagem do realizador, e é aí que Von Trier demonstra o seu grau de excelência. É verdadeiramente inquestionável o grande talento que este realizador nutre, é de uma irreverência e intelectualidade invejável.
No entanto, achei a primeira parte demasiado arrastada, a festa de casamento. Claro que é aí que conhecemos as principais intervenientes do filme: Justine (Kirsten Dunst) e Claire (Charlotte Gainsbourg), mas achei o desenvolvimento particularmente fraco, com tendência a cair para o aborrecido. E claro que também a questão da colisão ainda não está eminente. Portanto, é só na segunda parte que o filme se torna verdadeiramente interessante, pois já se sabe da inevitabilidade da catástrofe, e isso coloca o espectador naquela posição de "o que faria eu?". No entanto, vemos o mundo pelo olhos de Claire que, juntamente com seu filho Leo (Cameron Spurr), recebe a sua irmã Justine em profunda depressão. Ironicamente, quem começa a perder a cabeça é a própria Claire, ao invés da depressiva Justine, que por sua vez encontra-se bastante pacífica e conformada com o que se está a passar. O fatalismo e melodramatismo em contraposição à honestidade e aceitação são dos elementos mais fulcrais do filme. Lá está, o filme vai bastante além do que aparenta, sendo essencialmente caracterizado pelo seu simbolismo.
Relativamente às actuações, que poderei dizer? Nada fará jus à magnifica performance de Kirsten Dunst, que é de se lhe tirar o chapéu. Se tiver que elogiar, terei que dedicar um artigo inteiro para fazê-lo. Está verdadeiramente de parabéns, tal como Charlotte Gainsbourg, também em força no desempenho do papel de Claire.
Melancholia não é um filme para todos, isso é ponto assente. Mas é um filme que nos desafia intelectualmente como poucos fazem, e detém diversos elementos mais que interessantes que fazem com que valha mesmo a pena a sua visualização. Lars Von Trier é um verdadeiro cineasta. Considerações pessoais à parte.
EXAME
Realização: 9/10
Actores: 8/10
Argumento/Enredo: 8/10
Duração/Conteúdo: 7/10
Transmissão da ideia principal do filme para o espectador: 7/10
Média Global: 7.8/10
Crítica feita por Sarah Queiroz
Informação
Título em português: Melancolia
Título Original: Melancholia
Ano: 2011
Realização: Lars von Trier
Actores: Kirsten Dunst, Charlotte Gainsbourg, Kiefer Sutherland, Alexander Skarsgård
Trailer:
4 comentários
Excelente crítica! :) O prólogo é realmente algo genial. Concordo em grande parte com o que escreveste sobre o filme, tirando o facto de não ter achado a primeira parte aborrecida. Acho que serve como um excelente contra-peso à segunda parte do filme. De resto? You nailed it ;)
ResponderEliminarO prólogo é muito bonito e concordo contigo quando diz que o filme é difícil. Von Trier parece que vem ficando éxpert neste sentido!
ResponderEliminarAbs.
Minha interpretação é que Justine (Kirsten Dunst) representa a depressão enquanto Claire (Charlotte Gainsbourg) representa a ansiedade. Ambas são irmãs porque estes distúrbios estão muitas vezes ligados. Fora isso, o próprio Lars Von Trier disse que criou o filme num período de extrema depressão em sua vida.
ResponderEliminarA Lua também representa Justine/depressão e o planeta Melancholia representa Claire/ansiedade. Outra interpretação é que o planeta Melancholia representa a Morte.
Na verdade, essa capacidade para inúmeras interpretações é uma das qualidades deste filme que, se não é perfeito, é no mínimo interessante.
Boom, e o planeta se chocou. Um filme difícil mesmo, cheio de simbologias, mas de uma beleza única. As atrizes estão maravilhosas e a direção de arte é incrível.
ResponderEliminar