Hanna (2011)
“I’ve Just Missed Your Heart”
Sempre tive um carinho especial por filmes com títulos assim, uma única palavra poderosa e misteriosa, que causa impacto e aguça a curiosidade e as expectativas. Então se estamos na presença de um único nome próprio, simples mas forte, escrito com um trago soviético, associado a um bom elenco e a um bom trailer, é, na minha opinião, a perfeição no que toca à divulgação de um filme.
Hanna é uma jovem de dezasseis anos que vive isolada do mundo juntamente com o seu pai, Erik (Eric Bana), numa selva bem longe das metrópoles. Durante dezasseis anos, Erik treinou a sua filha para ser invencível e uma assassina perfeita, contando já com a inevitável perseguição que Marissa Wiegler (Cate Blanchett) iria fazer a ambos. Parece uma premissa simples? Sim, de facto é, mas também estou a ocultar algumas coisas para não revelar demasiado, visto que se trata de uma história cujos pormenores essenciais vamos descobrindo ao longo do filme. É uma história simples e nada recorrente, mas que em algumas das suas vertentes nos consegue entreter e prender.
Passando agora às minhas apreciações, a primeira grande ovação só pode mesmo ir para os actores e em especial para a jovem Saoirse Ronan que tem uma interpretação soberba na pele de Hanna. A inocência, o desconhecimento geral do mundo, a frieza, o instinto assassino, os sentimentos que transparece e a contracena apaixonante que desenvolve com outra jovem, Jessica Barden, a excêntrica e ignorante Sophie que conhece Hanna e acaba por lhe mostrar o lado mais bonito e puro da vida. Depois Cate Blanchett no papel de vilã, se já venerava esta actriz, passo a respeitá-la ainda mais depois desta maléfica Marissa Wiegler que foi muito bem conseguida. Cate Blanchett consegue acertar em tudo, nos olhares, na entoação das palavras, nos movimentos, no cinismo, uma perfeita vilã. Eric Bana está consistente no papel homónimo que desempenha, protagoniza uma cena de luta que é muito bem realizada e consegue acrescentar ainda mais beleza à personagem de Hanna nas contracenas que desenrola com ela, tanto as mais frias e as mais emotivas. Nota muito positiva ainda para o bizarro, excêntrico e lunático Isaacs (Tom Hollander – “Valquíria”, “Piratas das Caraíbas”, “O Solista”) e para os seus compinchas. Devo dizer que foi uma personagem que pisou a ténue linha que separa o sucesso do fracasso quando se arrisca desta forma, na medida em que é uma personagem com traços muito parecidos com a de algumas personagens “Tarantinescas”, nomeadamente a famosa Elle Driver e o seu inesquecível assobio, de “Kill Bill”. Ainda assim, é mais um vilão que arranca uma grande interpretação e que acrescenta um pequeno sentimento de comédia negra à trama. Em suma, uma direcção de actores muito bem conseguida, não houve um único a destoar, muito bom mesmo.
No que toca à concretização da história, adorei o estilo de realização de Joe Wright. Em nenhuma altura se esqueceu de sincronizar os movimentos da câmara, com os movimentos da Hannah e com a S-O-B-E-R-B-A banda sonora que os The Chemichal Brothers compuseram para este filme. Joe Wright tirou o melhor partido dela, especialmente nas músicas aliadas aos vilões da história e ainda mais na cena em que Hanna foge do centro de detenção em que está presa. Uma cena muito bem conseguida e talvez a melhor do filme, extremamente bem filmada. Os cenários bizarros e ao mesmo tempo vagos, quase surreais, que servem de palco para esta história foram muito bem escolhidos e caracterizados. Afinal estamos na presença de uma história também ela quase surreal, mas o pano de fundo do filme vai de encontro àquilo que as personagens nos mostram. Em todas elas vemos a inocência e bondade norte-americana a contrastar com o rígido sotaque alemão e a mafiosa atitude russa e nesse aspecto devo dizer que me impressionou a capacidade que toda a equipa técnica do filme teve em fazer resultar essa equação de elementos.
A única falha do filme é mesmo no início. Nas cenas iniciais do filme testemunhamos o treino árduo que Hanna fez com o seu pai ao longo de vários anos e nessa altura vamos ficando com água na boca para as cenas em que Hanna vai dar uma sova em quem ouse colocar-se no seu caminho. Ficamos tempo demais à espera disso, Joe Wright perde-se um pouco a relatar o primeiro contacto de Hanna com o mundo e com as pessoas e apesar de isso ser uma vertente necessária, retirou um pouco daquilo que se esperava da personagem principal. Mas penso que é mesmo a única falha. O final é fácil e sensorialmente criticável por ser tão simples e tão repentino e terminar numa completa matança, mas talvez se fosse feito de outra maneira ficasse pior. Penso que foi o final adequado e o mais “justo”.
Em suma, um filme que me entreteve, pela sua original história, mas pelo trabalho dos actores e pelas magníficas contracenas que testemunhamos nesta película. Mais uma vez refiro também a banda sonora do filme, das melhores que ouvi nos últimos tempos. Um bom filme, foi de encontro às minhas expectativas. Espero ver esta pequena actriz muito brevemente a encarnar outra personagem.
EXAME
Realização: 8.5/10
Actores: 10/10
Argumento: 8/10
Duração/Conteúdo: 7/10
Fotografia/Cenários: 9/10
Banda Sonora: 10/10
Transmissão da ideia principal para o espectador: 8/10
Média Global: 8.6/10
Crítica feita por Pedro Gonçalves
Informação
Título em português: Hanna
Título Original: Hanna
Realização: Joe Wright
Ano: 2011
Actores: Saoirse Ronan, Cate Blanchett, Eric Bana, Tom Hollander
Trailer do filme:
13 comentários
Se estão em direito e enfermagem, dediquem-se a isso ;)
ResponderEliminarO cinema é uma arte que só poderá ser compreendido por quem já esteve nela inserido, quem estudou forte e feio para o fazer. Não são 3 pessoas que "gostam" de cinema que fazem boas críticas. Boa sorte com o futuro, mas não tenham muitas esperanças neste ramo.
Ai sim? Agradeço a tentativa de orientação mas é dispensável. Não concordo contigo, não tenho que ter curso superior nenhum de cinema para opinar sobre os filmes que vejo. Perspectivas e opiniões são inteiramente subjectivas e todos temos direito a uma. Se são consideradas boas ou más isso depois é igualmente relativo. Devem é, sobretudo, ser respeitadas, e agradecia que o fizesses. Olha e não percebi o "gostam" de cinema com entre aspas. Questionas a nossa paixão por cinema como se nos conhecesses. E evidentemente que não conheces. Boa sorte com o futuro, tenta não te limitar tanto, e sobretudo não limites os outros.
ResponderEliminarPedrão, não poderia concordar mais contigo. Este texto demonstra, uma vez mais, a tua grande aptidão para a escrita, continua assim :)
Bom, não gosto de entrar neste tipo de picardias, mas tendo em conta o carácter cobarde e rídiculo do último comentário, deixa-me apenas ressalvar alguns pontos:
ResponderEliminar- O "Depois do Cinema" é um blogue que eu a Sara e a Joana desenvolvemos de livre vontade, não ganhamos nada com isto a não ser o orgulho de deter um blogue que já tem centenas de críticas e de comentários e milhares de visitantes diários.
- Se andaste a queimar as pestanas no curso de cinema durante três anos e saiste de lá um autêntico frustrado que se esconde atrás de um anonimato até para fazer um simples comentário num blogue, então deixa-me dizer-te que não tiraste N-A-D-A do que devias ter tirado esse curso. Eu não o tenho, mas conheço-o bem e posso-te garantir que se fosses alguém minimamente credível no mundo do cinema não te escondias atrás de um "anónimo"
- Esqueceram-se de desenvolver em ti capacidades de argumentação e contra-argumentação.
- Este espaço é um serviço voluntário e que nos dá imenso prazer fazer. Não temos de levar com esse tipo de comentários. Já dizia o outro "Quem não gosta, não come"
- Ninguém disse que eu, a Joana ou a Sara fazemos boas críticas. Fazemos as que fazemos com aquilo que sabemos e com base na nossa visão das coisas. Peço desculpa se ferimos susceptibilidades de alguém frustrado, não sabíamos que eramos assim tão grandes ao ponto de originar tais comentários de uma pessoa que certamente deve estar "bem inserida nesta arte", apenas porque "estudou forte e feio".
Obrigado pelo comentário!
Já tem um tempo que estou louco para conferir este filme, parece ser ótimo. Acho que a sua crítica Pedro foi uma das mais apaixonadas pelo filme que eu li, já que eu li várias críticas... "negativas". Enfim, tenho que conferir o quanto antes!
ResponderEliminarAchei-o bem interessante.
ResponderEliminarO Falcão Maltês
Hey! Parabéns pelo vosso blog e pela crítica. Fui ver ontem o Hanna e adorei, mas é um filme que me intriga e sobre o qual ainda não me decidi totalmente. Por um lado, achei que a realização e fotografia estavam excelentes, que os papeis desempenhados pela Soairse e a Cate Blanchett picam o ponto, que os personagens estavam extremamente carismáticos e interessantes e que o enredo era bastante cativante. Concordo quando dizes que o Joe Wright se arriscou ao pisar os terrenos "tarantinescos", não só no assobio da Elle, como na anti-heroína/heroína loira, vingativa e imbatível, como numa das imagens iniciais e finais do filme (Hanna, com o fundo vermelho). Também encontro imensas (mais ainda, até) semelhanças com a triologia do Jason Bourne, mas acho que são nítidas ao ponto de deverem ser consideradas mais um piscar de olho que um plágio, i guess.Hanna é um filme de acção estilizado e que por isso se distingue imenso daquilo que é feito em massa nos confins de Hollywood. Uma questão intrigante deste filme creio serem os plot holes e a forma abrutalhada como os detalhes sobre as origens de Hanna nos são transmitidos, coisa que muitos críticos salientam ser as suas grandes falhas. Mas eu questiono-me bastante sobre isso. Na maioria dos filmes de acção deste tipo, o grande mistério ronda em volta nas origens da situação que presenciamos ou dos motivos por detrás de algo. Aqui não. A origem da Hanna parece-me completamente irrelevante e até mesmo "irrelevada". Esses plot holes parecem-me quase propositados, a total desatenção que o guionista dá à face misteriosa do filme é o que distingue este filme. Nos momentos em que há essas revelações o grande ênfase é dado à emoção dos personagens, principalmente de Hanna. É aí, onde muitos consideram que o filme falha, que eu acho que vence.
ResponderEliminarQuanto à banda sonora, que adoraste, acho que tem os seus altos e baixos. Altos na segunda metade do filme, em que Os Chemical Brothers mais parecem os Justice, e baixos na pior cena do filme em todos os aspectos, a fuga de Hanna da base militar em Marrocos. Estava demasiado agressiva e um pouco desfasada daquilo que é o resto do filme.
Desculpa o comentário longo, confuso e não revisto mas estou extremamente cansado xD
P.S - Esses anónimos são hilariantes, também passam pelo meu blog e nunca deixam de me entreter. Por favor riam-se e continuem a fazer o máximo de coisas não relacionadas com as vossas carreiras. E espero que o anónimo não leve a mal o facto de me rir e aconselhar os outros a fazê-lo. Deve ser realmente triste passar a vida focado e limitado a uma coisa e ainda assim continuar na penumbra, no desconhecido, e ainda por cima ultrapassado por quem é eclético.
Já agora: http://french-fries-with-pepper.blogspot.com/
Eu gostei do filme e adorei a Saoirse. Acho que a miúda esteve bem. O tema está mais que falado mas vê-se bem. Não gostei muito do Erica Bana e do papel da Cate Blanchett.
ResponderEliminarGostei deste template :-)
ResponderEliminarÉs muito generoso nas pontuações.
ResponderEliminarO argumento está deficiente, especialmente a introdução, e o resto está cheio de clichés já vistos e revistos em muitos outros filmes.
Só por ter uma miúda a dar porrada?? por favor :)
Popcorn flick e mais nada de novo aqui.
Muito obrigado a todos por lerem as nossas críticas e deixarem comentários, é muito importante ter o vosso feedback!
ResponderEliminarJoão Queirós, tive para referir aquela imagem que apresenta o título do filme, mas depois acabei por não o fazer. Dizes muito bem, é mesmo mais uma característica do nosso Tarantino que ele acaba por adaptar, mas não penso nela como uma cópia, há ali uma apropriação da parte do Joe Wright que resulta muito bem.
Netshark, enfim, uns conhecem-me por ser generoso, outros por ser devastador ehehe, parece que preciso de encontrar o meu equílibrio. Consigo compreender parte do que dizes, eu adorei o filme, acho que cumpriu o seu propósito e que está muito concretizada a ideia inicial. Alguns clichés mas nada que na minha opinião seja assim tão escandaloso. A mim saltaram-me à vista muitos mais pontos positivos que destaco no filme. Apenas não concordo totalmente contigo quando dizes que o filme se baseia numa míuda a dar porrada. Já o disse no texto e volto a dizer, ela até anda "à porrada" muito menos vezes do que é expectável. Há toda uma parte emocional neste filme, a personagem dela dividi-se em várias direcções e vertentes. Mas obrigado pelo teu comentário!
Acabei de ver o filme Hanna e só me deu vontade de escrever algo no meu blog, mas antes decidi ver o vosso comentário ao filme. Não recorro muito a este blog mas em críticas cinematográficas é para mim uma referência.
ResponderEliminarFoi o Pedro Gonçalves que escreveu a crítica! Pois digo-lhe que não podia estar mais de acordo com o que foi descrito.
A princípio não estava a ver quem era o realizador, mas depois percebi que já tinha visto dois filmes dele: Pride & Prejudice e Atonemente que é um dos meus filmes top pela beleza da realização, da historia e da cenografia. Curiosamente este Hanna é um virar de estilo, não tem nada haver com os que mencionei a não ser a Saoirse Ronan que tem um papel de grande destaque no Atonemente ainda muito nova. Claro que este filme não seria a mesma coisa sem Saoirse, ela é a alma, as emoções, a serenidade, a inocência e a acção do filme. Grandes pontos para a sua interpretação (já vi ganharem Óscares por muito menos) e prevejo-lhe um percurso consistente dada a intensidade interpretativa com apenas 16 anos.
Outro destaque é sem dúvida a banda sonora. A música e a imagem coabitam como num videoclip e várias vezes tive a sensação de estar a assistir um vídeo, tal era a dinâmica das cenas e da sonoplastia.
Só não concordo com isto: “Em todas elas vemos a inocência e bondade norte-americana a contrastar com o rígido sotaque alemão e a mafiosa atitude russa…” não sei que paralelismo estás a tentar fazer, pois o filme não tem qualquer referência á cultura americana, muito pelo contrário. É um road movie, que começa na Alemanha parte para Marrocos, passa por Espanha, atravessa meia Europa (em poucos minutos) e regressa a Berlim. Outra referencia que estamos perante um filme sem influências americanas, é a multilinguagem presente, do alemão ao árabe, do espanhol ao inglês. Para não falar dos actores: Cate e Eric são Australianos, o realizador e alguns actores secundários são Ingleses e Saoirse é a única Americana, mas tem um aspecto tal que nos leva a crer se tratar de uma actriz de Leste.
Contrariando o que li noutros sites não vejo qualquer ligação ou comparação com Salt nem com Bourne. Embora aquele final atabalhoado com Hanna num fundo vermelho foi muito pobrezinho e cheira a Marvel. Quanto à tal história surreal que referes sim é uma constante, mas talvez o dado menos credível seja a viagem de Marrocos a Berlim ser feita sempre á boleia e sem gastar um tusto. Mas que importa isso, tudo o resto é bom.
Ahh Fiz referencia ao vosso blog aqui:
ResponderEliminarhttp://cronicasdavida.blogspot.com/
Muito obrigada ^^
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