Depois do Cinema

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

The Fighter (2010)

"Every Dream Deserves a Fighting Chance."

Se a minha caríssima colega Joana Queiroz para o “Cisne Negro” teve apenas duas palavras (Natalie Portman), para este filme eu volto também a ter duas palavras: Christiane Bale. Uma interpretação A-R-R-E-B-A-T-A-D-O-R-A. Esta interpretação de Christiane Bale vem confirmar que estamos na era das interpretações secundárias. Depois de Alan Arkin, Javier Bardem, Heath Ledger e Christopher Waltz nos deixarem a pensar que é impossível igualar o seu nível, acho que a personagem de Christiane Bale vem dar continuidade a esta tendência. A grande questão é que não é só ele. Este filme tem uma direcção de actores como eu não via há muito tempo. Personagens para todos os gostos, interpretadas uniformemente e disciplinadamente, que enchem o ecrã e abrilhantam este filme duma forma soberba. Há muito tempo que não sentia esta sensação de redenção perante tantos actores de uma vez só e penso sinceramente que este filme vai receber os Óscares para interpretações secundárias, em ambos os géneros, não por Amy Adams, mas sim por Melissa Leo. Depois, é também um filme que confirma que o Boxe é um excelente mote para qualquer película. Mais uma vez temos a história de um lutador desacreditado (Mark Wahlberg) que acaba por conseguir um enorme feito, com a ligeira nuance de que desta vez é constantemente “assombrado” pelo seu irmão (Christiane Bale), uma antiga glória do Boxe, que lhe ensinou tudo o que sabe.

O filme está muito bem escrito e é aqui que reside a chave para que não nos venha à cabeça aquela sensação de “já vi isto em qualquer lado”. Há momentos de desinibição e de dispersão da história principal que são cruciais. O filme chega a ter muitos momentos cómicos que sabem muito bem. Há ainda toda uma atmosfera de valores e costumes americanos da década de 90 que são muito bem explorados neste filme. O paralelismo entre as duas carreiras de boxe dos dois irmãos também está muito bem conseguido e mais uma vez saliento as relações que são construídas entre as personagens. Este mesmo argumento é bem transportado para o ecrã por David O. Russel, mas mesmo assim não conseguiu nada que me impressionasse. Planos cansados, insuficientes e inadequados em certas situações. Lembro-me muitas vezes de pensar “mas porque raio está a ele a filmar isto, quando se está a passar aquilo ali atrás?”, isto claro, falando numa linguagem muito prática.

A banda sonora é espectacular mas não muito inovadora e peca por isso. A fotografia não me chamou à atenção em muitas alturas do filme, excepto nas cenas de luta em pleno ringue de boxe, mas isso não é algo que nunca tenha sido explorado. Voltando à história, sim é uma boa história, tem alguns contornos desviantes da típica história do lutador de boxe, mas saio do filme convencido de que foram os actores que elevaram este filme a uma fasquia muito alta. Fazendo a inevitável comparação com os Óscares, sou muito breve: este é o filme dos actores, sem dúvida. Acho a realização de David O.Russel e o filme no seu todo insuficientes para as nomeações de Melhor Realizador e Melhor Filme. Quanto ao argumento, muito bom sem dúvida, mas não terá hipóteses contra o “Inception” e o “The King’s Speech”.

Em suma, são alguns minutos de bom entretenimento, mas fico triste por saber que ficou ali algo por explorar, facilmente teria sido um filme totalmente arrebatador. Uma última nota para a duração do filme que é extremamente longo, o que é escusado.
Agora, esquecendo o filme, um pequeno desabafo que preciso de partilhar com vocês:
Não sei quem é o Senhor Correia Ribeiro, mas espero sinceramente que ele seja despedido de seja onde for que faz a tradução e a legendagem de filmes. É VERGONHOSO e INCONCEBÍVEL aquilo a que assisti quando fui ver este filme. Partes do filme sem legendas, traduções ridículas de muitas das frases do filme. 6,10 € por um bilhete e deparo-me com isto? Com isto e com as “digitalisses” da Zon Lusomundo, que em vez de prestar atenção ao lixo que anda a exibir quer é fazer um autêntico show-off de qualidades que não tem. Parece que o disparo de lucros dos últimos anos os fez esquecer de pequenas coisas que dão conforto e satisfação aos seus clientes. Façam reclamações como eu fiz, esqueçam a filosofia do “não vai adiantar de nada”, isso é que não vai mesmo adiantar nada.

EXAME

Realização:
6/10
Actores: 10/10
Argumento/Enredo: 9/10
Duração/Conteúdo: 5/10
Banda Sonora: 7.5/10
Fotografia: 7/10
Transmissão da principal ideia do filme para o espectador: 8/10

Média global: 7.5/10

Crítica feita por Pedro Gonçalves

Informação

Título em português: The Fighter - Último Round
Título original: The Fighter
Ano: 2010
Realização: David O. Russell
Actores: Mark Wahlberg, Christian Bale, Amy Adams

Trailer do filme:


2 comentários:

  1. Concordo quanto ao Bale, acho que parte tudo e ofusca completamente qualquer outro, apesar da Amy e da Melissa terem estado bem. Ainda assim acho que fica um degrau abaixo dos antecessores de que falaste, exactamente pela diferença de, a meu ver, os outros terem feito parte de grandes filmes, ao contrário do Christian.

    Acho mesmo que o grande problema deste filme, com uma realização interessante, é o argumento, que não se decide sobre o que tratar, tratando mal aquilo em que toca.

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  2. Quero ver este filme, só espero que não seja o típico filme transbordado de clichés e que as magníficas interpretações do elenco constituem a única coisa boa do filme.

    No entanto, gostei do que escreveste e deste-me uma vontade enorme de ir vê-lo.

    E adorei esse teu aparte sobre a tradução e legendagem dos filmes. É de facto incrível.

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